OBRAS
OTONIEL
Serrinha (BA), 1995 I Vive e trabalha em São Paulo (SP), Brasil.
Ogã, escultor, pintor e luthier. Artista Interdisciplinar, neto de Dona Zenaide (rezadeira negra nascida em Ichu - BA). Inicia-se como músico aos 14 anos, em Jacobina (BA), vivenciando a música local das filarmônicas e fanfarras, às bandas de pife e mestres de repentes e aboio. Aos 16, migra sozinho para Salvador, tendo contato com as artes plásticas acadêmicas. Em 2017, firma seus estudos na área ao cursar o Bacharelado Interdisciplinar em Artes da UFBA.
Foi violinista e Luthier no Programa Neojibá, acompanhando a Orquestra Juvenil da Bahia em sua turnê europeia, em 2018. Também por meio deste programa cursou construção e restauro na Geigenbauschule Brienz - Suiça; e atuou como estagiário em ateliers em Genebra e França. Em sua estadia em Brienz, teve contato com a escola, alunos e professores da Schule für Holzbildhauerei, marcando seu desenvolvimento artístico nesse campo.
Participou da Exposição "Pintura" no Museu de Arte da Bahia, 2019, como também do 8° Salão da Escola de Belas Artes, no mesmo ano. Atuando posteriormente em congressos, ocupações e encontros de estudantes por meio da UFBA. Participou da Feira Latino Americana Equinox , em 2022.
Otoniel pesquisa, por meio da experiência no existir, o corpo trajeto e território, suas estéticas e poéticas. Comungando em sua arte, o sentido de pertença à nação afrolatina e o descondicionamento às epistemes da colonização e do mundo globalizado. Tendo visto sua vida encantada obstruída desde a infância pela visão hegemônica branco europeia, disseminada na construção e preservação do Estado brasileiro por meio de suas relações coloniais institucionais, evoca saberes, escutas, fazeres e vivências do cunhado como “popular”, o compartilhado. Em contraponto à episteme corporativa do poder, desapropriação dos corpos e o desencantamento da vida em suas diversidades e adversidades.
ENTREVISTA
Como você entrou para o mundo das Artes?
Iniciei no estudo musical aos 12 anos de idade, mais especificamente tocando violino em um programa social em Jacobina-BA. Aos 16 fui para Salvador, para me integrar ao programa Neojibá, onde me especializei na Lutheria de cordas friccionadas. De lá pude viajar para a Europa, onde tomei contato com as escolas de escultura em madeira da Suíça. Fora isso sempre fui afoito e ligeiro, desenhava em tudo, naquilo que não desenhava fazia batuques e música.
O que você entende como Artes Plásticas?
É tudo aquilo que se compreende como uma materialidade, que possui “algo” capaz de produzir um hiato na vida cotidiana, nos separando dos alicerces que nos cercam e partir daí causando um jogo de sensações, lembranças e sentimentos.
Como você define sua Arte?
Minha arte é sobretudo um falar de mim mesmo, de minhas vivências com o sagrado, do meu reencantamento, das lutas de meu povo e das coisas que compõem minhas memórias e observações. É uma mistura do sagrado e o profano, talvez uma certa ode à realidade, à alegria, à queda da dualidade. E tudo aquilo que possa compor o ser afrolatino em seus corpos, trajetos e territórios.
Quais são suas maiores referências no mundo das Artes?
Há dois escultores principais que, sem dúvida, mexem muito comigo. A primeira é a Conceição dos Bugres. O outro, Agnaldo dos Santos. Conhecer a obra de ambos, certamente, me marcou muito. Sempre carrego alguns catálogos deles por onde vou para estudar seus gestos e figurações. Gosto muito também do Jayme Figuras, Mestre Didi, o Zé Diabo, dentre outros. Também costumo estudar e referenciar algumas etnias africanas, dentre elas os Chokwe e os Grebo são os que mais me enchem o peito quando encontro algumas de suas obras. Sem esquecer, obviamente, os magníficos Bronzes do Benim.
Quais são os principais temas utilizados em suas obras? E por quê?
Parto do Candomblé de Nação Ketu e do Jeje Mahi, simplesmente porque é isso que vivencio todos os dias. É a cultura na qual nasci, e como herdeiro legítimo, tendo a me movimentar contra o epistemicídio lutando como guardião das memórias e trajetórias dos antigos e dos mais novos. Também conto sobre minhas vivências do dia a dia, as reflexões sociais, políticas, culturais e subjetivas que retiro desse cotidiano.
Quais são as principais técnicas utilizadas em seu trabalho? E quais delas você mais gosta de utilizar?
Ultimamente tenho me debruçado sobre a escultura em madeira e a pintura, ambas possuem suas individualidades que me fascinam no materializar artístico. Mas, sem dúvida, a escultura tem se mostrado cada vez mais o caminho para uma gama de possibilidades. Ainda assim, gosto de fazer com que pintura e escultura caminhem lado a lado.
O que você busca passar através de suas obras para o espectador?
Procuro passar, sobretudo, a esperança de que apesar de todo o negativo do mundo, precisamos continuar lutando. Simplesmente porque não temos outra saída. Busco o afeto, a beleza que foge de padrões preconcebidos. E mostrar que, diferente do que nos é ensinado, a vida é sim encantada. E isso não nos aliena, pelo contrário, é libertador.
Quais suas melhores e maiores experiências em sua carreira artística?
Uma das experiências que mais me marcou, foi ter estagiado na Suíça por alguns meses, onde tive contato com escultores incríveis. A outra foi ter duas obras integradas ao acervo do Mam-BA, junto a uma exposição maravilhosa.
Em sua obra existe um cunho de protesto além do que se é obviamente visto? Se sim, qual? Se não, há algum tema que desperte a sua vontade de protestar?
Então, como disse antes, trabalho com alguns vieses políticos como o apagamento histórico e os epistemicídios. Procuro citar também temas sobre os governos atuais e colorismo.
Você tem interesse em fazer uma exposição itinerante? Se sim, como você imagina essa exposição? Saberia dizer qual tema gostaria de abordar?
No momento não, porém estou aberto a propostas. Embora, não possa me ausentar fisicamente das minhas funções no terreiro.
Aonde você almeja chegar como artista plástico?
Almejo ser o melhor da minha geração, ter reconhecimento mundial e viver/morrer como uma referência.